Mealheiro #55: todo-lá-para-dentro vs lá-para-dentro-aos-bocadinhos
Quem fora de horas vier, comerá do que trouxer
Uma pergunta muito comum que normalmente me fazem:
Tenho € XXXX, que faço com isto? Invisto tudo de uma vez? Ou não?
Há outras variações deste mesmo caso. Investir uma vez ao ano, ou mensalmente? Pôr parte do salário em investimentos, e talvez pôr o subsídio de Natal de uma vez? Aos bocadinhos, ou todo lá para dentro?
Esta preocupação, especialmente com pessoas que se iniciaram recentemente no mundo dos investimentos, é muito comum e extremamente válida. E embora não haja uma resposta certa, há alguns fatores a ter em consideração.
Contudo, antes de entrar nessa análise, gostava de explicar os dois conceitos técnicos por trás deste dois métodos de investimento:
Dollar-cost averaging (DCA), ou montante diluído: estratégia que envolve o investimento de uma quantia fixa de dinheiro em intervalos regulares durante um longo período de tempo;
Lump sum, ou montante único: estratégia que envolve fazer o investimento de uma quantia única de dinheiro, normalmente de valor alto, num momento único e de uma só vez.
Agora que temos isso claro, falemos então dos fatores a considerar:
Não sabemos o futuro
Aceita que nunca vais conseguir adivinhar o futuro. Como resultado, também nunca saberás se um investimento único será melhor que um investimento diluído. Se entenderes claramente isto, será mais fácil para ti tomar uma decisão, e também evitar que sejas levado por alguma previsão que viste nas notícias.
Tendo isto em conta, aquilo que te posso dizer é que, historicamente, investimentos únicos têm melhores retornos do que investimentos diluídos. Pesa as tuas preocupações cuidadosamente, considerando o seguinte:
Dinheiro mal parado é dinheiro que está a perder valor;
Atrasar investimento é, por si, uma forma de market timing.
Historicamente, os mercados favorecem montantes únicos
A Vanguard publicou um estudo em 2012 que comparou estas duas estratégias de investimentos:
Analisaram três mercados diferentes - EUA, Reino Unido e Austrália;
Examinaram períodos de 10 anos consecutivos, mensalmente, de 1926 a 2011 (deixo aqui uma nota sobre rolling periods);
Consideraram diferentes alocações de ações/obrigações;
Para montantes diluídos, consideraram períodos de 6 a 36 meses.
A conclusão foi que o investimento por montante único superou o investimento por montante diluído cerca de 2/3 das vezes. Os resultados foram consistentes nos EUA, Reino Unido e Austrália.
Olhando para isto, e se fores uma pessoa racional, o investimento por montante é, sem dúvida, a melhor abordagem.
Mas lembra-te sempre que, no mundo dos investimentos, qualquer análise é sempre feita tendo em conta valores históricos. E retornos passados não são garantia de retornos futuros.
Para diminuir perdas, montante diluído é preferível
A razão pela qual tu podes estar a pensar se hás de usar uma estratégia ou outra é, possivelmente, porque tens alguma preocupação que possas perder dinheiro - mais do que maximizar possíveis retornos.
O estudo da Vanguard mencionado acima também tem algo a dizer sobre isto. O que descobriram foi que, durante mercados em baixa, o investimento por montantes diluídos resultava em perdas menos frequentes do que os investimentos por montantes únicos. Especificamente, o estudo constatou que para montantes únicos, houve perdas 22,4% das vezes. Para montantes diluídos, esse valor foi de 17,6%.
Ou seja, se o teu objetivo é proteger o teu dinheiro, e limitar riscos, o investimento por montantes diluídos pode ser a melhor abordagem.
A diferença entre os dois é, normalmente, pequena
Se assumirmos uma alocação de 60% ações e 40% obrigações, nos Estados Unidos, o investimento por montante único superou o investimento por montante diluído em 2,3%, em termos de retorno. Portanto, coisa pouca, que para a maioria das pessoas pouca diferença irá fazer.
Considera a tua tolerância ao risco
E, como sempre, a questão mais importante a considerar: quanto risco é que consegues tolerar.
Imaginemos a seguinte situação: tens €5000 que queres investir. Estás a tentar decidir como o fazer, e acabas por investir tudo de uma vez. Contudo, quando vais para a cama à noite, não consegues deixar de pensar no que fizeste. “€5000 é tanto dinheiro, e se o mercado amanhã cai? E se eu preciso do dinheiro para alguma urgência?” Dormes mal, acordos de mau-humor no dia seguinte, e o ciclo repete-se.
Isto é algo muito comum, e que não deve ser visto com leveza. É muito fácil dizer que somos capazes de aguentar tudo isto, mas o nosso cérebro funciona de forma misteriosa, e dito e feito são coisas diferentes.
Se tens propensão a repensar muito as tuas decisões, então o investimento por montantes diluídos talvez seja a melhor opção para ti. Já, por outro lado, se és alguém que quando toma uma decisão, fica tomada e arrumada, então investires um montante único talvez possa funcionar.
Para terminar, gostava só de dizer que estas duas estratégias não são mutuamente exclusivas. Se o teu objetivo é investimento a longo prazo, tenho a certeza que acabarás por usar ambas em diferentes momentos, e por diferentes razões. Eu já o fiz, e tenho a certeza que o voltarei a fazer. O importante é que penses em aplicar o teu dinheiro, e não o deixes a “ganhar pó”.
Faz com que o teu dinheiro trabalhe por ti
PS: se queres ler algo bastante mais detalhado, que compare estas duas formas de investimento, então recomendo Dollar Cost Averaging vs. Lump Sum: The Definitive Guide.
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