Mealheiro #71: Dois Terços Do Produto Pelo Preço De Um
Como a reduflação impacta a tua carteira
Ontem fui comprar um Magnum. Aquele gelado da Olá que deves conhecer. E fiquei surpreendido. Era muito mais pequeno do que aquilo que me lembrava. Tenho a certeza absoluta, e também sei que a minha memória não me está a enganar! Para além disso, o preço também era maior do que o que eu me lembrava.
E sim, eu sei que o aumento do preço é normal. A inflação tem um papel importante aqui. Mas porque é que o produto final é mais pequeno do que me lembrava? A razão é simples: reduflação. E porque é que isto acontece? Vamos por partes.
O que é a reduflação?
A reduflação, ou shrinkflation, é uma prática das empresas em que reduzem o tamanho dos produtos enquanto mantêm, ou aumentam ligeiramente, o preço. Por outras palavras, é uma forma de inflação oculta, onde tu, como consumidor final, recebes menos produto pelo mesmo dinheiro - ou, por vezes, até pagas mais. Isto pode ser feito de várias maneiras, como reduzir o tamanho do produto ou a quantidade de produto na embalagem.
Esta prática não é fraude desde que a informação no rótulo do produto e na etiqueta do preço estiver certa. Contudo, na minha opinião, roça o limite daquilo que pode ser considerado ético.
Certamente já te deparaste com esta situação, e exemplos por aí fora não faltam:
DECO: Reduflação: produtos mais caros, mas com menos quantidade
Contas Poupança: Cuidado com a reduflação - O que é isso?
Como funciona?
Existem várias maneiras pelas quais as empresas podem fazer a reduflação, mas, em geral, o processo envolve a redução do tamanho ou da quantidade do produto, enquanto o preço permanece o mesmo ou é aumentado ligeiramente:
Redução do tamanho do produto: as empresas reduzem o tamanho físico do produto, como a quantidade de cereais numa caixa ou o peso de um pacote de batatas fritas, enquanto mantêm o preço;
Redução da quantidade do produto na embalagem: as empresas reduzem a quantidade do produto colocada na embalagem, como o número de bolachas num pacote, mas novamente, mantêm o preço;
Alteração dos ingredientes ou qualidade: algumas empresas mudam a fórmula ou qualidade do produto para reduzir os custos de produção, mas mantêm o preço.
Isto é legal?
As empresas podem sempre alterar a composição dos produtos que vendem, assim como definir os seus preços – salvo algumas exceções em que há margens máximas definidas. Ou seja, é legal. Mas, embora a reduflação seja uma estratégia comum usada pelas empresas para manter os preços competitivos, também pode ser vista como uma prática enganosa e antiética, uma vez que os consumidores não estão a ser informados de que o tamanho ou quantidade do produto foi reduzido.
Na verdade, a reduflação pode ser considerada uma forma de publicidade enganosa, uma vez que as empresas fazem parecer que os preços permanecem os mesmos, mas, na verdade, estão a reduzir a quantidade ou qualidade do produto.
Contudo, algumas empresas argumentam que a reduflação é necessária para manter os preços competitivos, especialmente num mercado global cada vez mais competitivo. No entanto, e na minha opinião, os consumidores deveriam ter o direito de serem informados sobre qualquer alteração no tamanho ou quantidade do produto que estão a comprar, para que possam fazer uma escolha informada sobre o valor do produto relativamente ao preço.
Em muitos países, existem leis que exigem que as empresas declarem claramente o conteúdo, tamanho ou quantidade do produto na embalagem. Em Portugal, desde que a informação no rótulo seja igual à informação da etiqueta com o preço, está tudo bem. Não há legislação a obrigar as empresas a comunicar as alterações no rótulo do produto, informando a quantidade de produto diminuída (em termos absolutos e percentuais) como existe, por exemplo, no Brasil.
Qual é o impacto para o consumidor?
Embora, à partida, esta prática possa parecer ter pouco impacto (podemos sempre estar atentos ao preço/quantidade, não é?), a verdade é que a mesma pode-te afetar mais do que tu imaginas:
Ao fazeres compras, acabas por pagar o mesmo, ou mais, por uma quantidade menor do produto que estás a comprar;
Dificulta o teu orçamento, por não estares ciente de que a quantidade ou tamanho do produto que costumas comprar foi reduzido;
Podes-te sentir enganado e frustrado com a empresa que recorre a esta prática, resultando assim em perda de confiança e lealdade à marca.
O que podes/deves fazer como consumidor?
Pouco ou nada podes fazer para evitar esta prática. Mas isso não quer dizer que não haja formas para evitares cair nesta “armadilha”:
Verificar sempre o rótulo do produto: esta informação, aliada à informação na etiqueta de preço, vai-te ajudar a comparar o preço do produto com o de outras marcas, ou então a perceber se estás a pagar mais do que costumavas pagar;
Comparar os preços: a não ser que tenhas um produto preferido, nunca leves o primeiro que te aparece na prateleira. Compara os preços de produtos similares de marcas diferentes, e tenta perceber qual tem o preço mais justo (p. ex. compara o custo por unidade ou por kg);
Comprar em volume: quanto mais compras de uma só vez, mais barato te fica. Sempre que possível, compra em volume para reduzires o custo por unidade do produto;
Ficar atento a promoções: esta aqui é dada, mas nunca é demais relembrar. Semanas promocionais, cartões de desconto, etc. Tudo isto pode-te ajudar a reduzir a tua conta no final;
Estar consciente da reduflação: sempre que fores às compras, lembra-te desta prática e o quão comum é. Isto vai-te ajudar a tomar melhores decisões no momento de compra.
Portanto, numa altura em que a inflação está em níveis históricos e achavas que só tinhas que te preocupar com isso (que por si só, já é muito), vim agora lembrar-te que afinal ainda há mais coisas para as quais deves prestar atenção.
Eu sei, também não gosto de ser o portador de más notícias. Mas olha para isto como uma oportunidade para, quando fores outra vez às compras, teres um pouco mais de atenção aos produtos que escolhes levar contigo. Afinal de contas, “quem te avisa, teu amigo é”. Espero eu 👀
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Até uma próxima vez - Guilherme
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