Mealheiro #73: A Tua Reforma Vai Ser Mais Pequena Do Que Pensas
Ganha o que souberes e poupa o que puderes
A antiga presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e Dívida Pública (IGCP) e atual diretora executiva do BPI, Cristina Casalinho, mostrou esta quinta-feira "surpresa" com o facto uma parte "significativa" dos portugueses acreditarem ainda na capacidade das pensões em substituir os rendimentos de trabalho a 100%.
Relata o Jornal de Negócios, a 17 de novembro de 2022, sobre Cristina Casalinho que falava na conferência anual da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), sobre um estudo onde foi revelado que menos de metade dos portugueses (43%) está a poupar para a reforma.
Antes de avançar para o “sumo” do artigo de hoje, gostava só de fazer um aparte que considero importante. A “surpresa” demonstrada pela pessoa em questão, que governou uma entidade pública, demonstra, na minha opinião, não o desfasamento dos portugueses em relação aos assuntos de interesse público, mas talvez a falta de noção que os nossos governantes têm sobre o verdadeiro estado da nação.
Este problema não se limita só a este caso específico. Ele extravasa e encontra-se presente em todas as dimensões dos serviços públicos e nos vários níveis de governação. O comum português não tem tempo, nem largura de banda, para se preocupar com estas coisas. O que é mais importante: pôr comida na mesa, ou seguir a telenovela “Galamba”?
Infelizmente temos neste momento um estado que não permite, a uma grande maioria das pessoas, dedicar o seu tempo a pensar no futuro. Inflação absurda, impostos sufocantes, etc, deixam muito pouco tempo de sobra para outras preocupações. São válidas essas preocupações? Sim. Mas será que são mais urgentes ou importantes? Não.
E é muito preocupante que aqueles que nos governam fiquem surpresos por estarmos desfasados da realidade. No meu caso, eu fico é surpreso com a falta de noção de alguns “cabeças de cartaz” que, do alto do seu pedestal, acham que estão perto do comum cidadão e percebem o que lhes tira o sono à noite.
De volta ao tema principal. O estudo - lançado pela ASF (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões), em parceria com a Universidade do Minho. O universo de amostragem foi a população residente em Portugal entre os 25 e os 65 anos.
O estudo mostra, logo à partida, um número que me inspira alguma confiança: 67% dos inquiridos poupa regularmente. Contudo, do outro lado temos 27% que não poupa por não ter rendimentos que o permitam. Ou seja, quase 1/3 das pessoas não é capaz sequer de poupar por não receber dinheiro suficiente.
Daqueles que efetivamente poupam, 31% fazem-no com o objetivo de se protegerem contra acontecimentos inesperados - necessidade de substituição ou reparação de automóvel ou eletrodomésticos, reparações na habitação. Só depois temos o grupo que poupa para a reforma, com 22% dos inquiridos que poupam a dizer que o fazem com este objetivo.
É aqui que entra o comentário que referi acima. Das pessoas que poupam para a reforma, 54% fazem-no porque acreditam que vão ter uma quebra de rendimentos quando este momento chegar. Os outros 46% têm outras razões para o fazer.
Embora 54% possa parecer um número elevado, lembra-te que este valore é um subgrupo dos inquiridos. Ou seja, no universo total de inquiridos, e não só no dos que poupam para a reforma. Sendo assim, e se extrapolarmos este valor para o número total de pessoas, ele passa a ser cerca de 8%. É preocupante. E porquê?
Num outro estudo, apresentado também pela ASF e em parceria com a Nova School of Business and Economics, estima-se que a taxa de reposição de pensões (o valor que deverás receber na tua reforma face ao valor que recebes em salário) poderá cair cerca de 33% em relação ao valor atual.
Em 2019, a taxa de substituição do salário pela pensão era de 74%, segundo o mesmo estudo. Ou seja para um ordenado de 2000 euros, o trabalhador recebe 1580 euros de reforma. Mas daqui por 48 anos, as estimativas são bem mais negras e apontam para uma redução de 33 pontos, de 79% para 46%.
Pensionistas vão perder mais de metade do salário, dinheiro vivo, novembro 2022
E isto sim, é preocupante. Aliado ao facto de que a maioria das pessoas está completamente alienada desta situação, o futuro que nos espera é, à falta de melhor expressão, sombrio.
Como cidadãos, o nosso voto pode e deve influenciar aqueles que escolhemos para governar o nosso país. Embora não tenhamos poder final de decisão sobre as políticas escolhidas, é importante tentarmos estar presentes e conscientes das mesmas.
Mas, como já referi anteriormente, isso pode ser difícil - a vida acontece. As nossas necessidades e prioridades, assim como o nosso foco, mudam constantemente. Qual é a outra solução então? Literacia financeira. Seja em casa, na escola, ou no fórum público, acredito que esta seja o grande fator que pode ajudar toda e qualquer pessoa.
Este tema dava aso a longas discussões, mas penso que toquei nos pontos mais relevantes:
A importância de teres objetivos claros de poupança, e pensares no curto, médio, e longo prazo
O risco da tua reforma ser muito mais baixa do que aquilo que esperas
Já abordei este assunto de diferentes formas no passado, e por isso deixo-te alguns artigos para leres que despertar a tua curiosidade ainda mais.
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Até uma próxima vez - Guilherme
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